Palacete de Requesende: A História e a Luta pela Preservação de um Ícone da Prelada no Porto



Em pleno coração do Porto, na histórica zona da Prelada, encontra-se um dos exemplos mais significativos da arquitetura do início do século XX: o Palacete de Requesende. Localizado na Travessa de Requesende, nº 388, este magnífico edifício representa não apenas um marco arquitetónico, mas também um testemunho vivo da evolução e transformação da cidade do Porto ao longo dos tempos.

A História e Arquitetura do Palacete de Requesende

O Palacete de Requesende foi construído na primeira década do século XX, período de grande efervescência cultural e arquitetónica no Porto. Situado numa zona que historicamente foi dominada por grandes quintas e propriedades senhoriais, o palacete destaca-se pela sua elegância e pela preservação de elementos que remontam ao final do século XIX.

Características Arquitetónicas Distintas

O que torna o Palacete da Travessa de Requesende verdadeiramente especial são os seus elementos arquitetónicos únicos:

  1. Fachada coberta de azulejos - Um dos seus traços mais distintivos, esta fachada está protegida por lei desde 2017, reconhecendo o seu valor patrimonial inestimável.
  2. Portão histórico imponente - Datado aproximadamente entre 1870 e 1890, este portão representa um trabalho artístico excecional em ferro forjado, exemplificando o requinte da época.
  3. Muros e gradeamentos trabalhados - Elementos que complementam a propriedade e demonstram o cuidado artesanal com que toda a estrutura foi concebida.
  4. Estrutura interior preservada - Embora menos visível ao transeunte comum, o interior do palacete mantém características típicas das residências abastadas do início do século XX.

A Prelada e a Ribeira da Granja: Contexto Histórico

Para compreender plenamente a importância do Palacete de Requesende, é fundamental contextualizar a sua localização. A Prelada é uma das zonas mais ricas em história no Porto, tendo sido, durante séculos, o local escolhido pela aristocracia portuense para estabelecer as suas residências de campo e quintas.

A Influência da Ribeira da Granja

A proximidade do palacete com a Ribeira da Granja, um dos cursos de água mais significativos do Porto, não é coincidência. Esta ribeira desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da região:

  • Forneceu água para irrigação das quintas e propriedades agrícolas
  • Serviu como fonte de abastecimento para residências
  • Foi utilizada em diversas atividades industriais que se desenvolveram na zona

Esta ligação entre o Palacete de Requesende e a Ribeira da Granja reforça o valor patrimonial do edifício, inserindo-o numa narrativa mais ampla sobre o desenvolvimento urbano e económico do Porto.

A Controvérsia sobre a Demolição

Em junho de 2019, um grupo de cidadãos conscientes tomou conhecimento de um projeto de arquitetura que previa a demolição integral do Palacete de Requesende. Este projeto (Processo nº 116421/19) submetido à Câmara Municipal do Porto gerou imediata preocupação entre especialistas em património e cidadãos que valorizam a história da cidade.

A Carta Aberta ao Presidente da Câmara

Em resposta a esta ameaça, um grupo composto por arquitetos, historiadores e cidadãos preocupados, incluindo Alexandre Gamelas, Francisco Queiroz, José Pedro Tenreiro, Malcolm Millais, Nuno Gomes Oliveira, Paulo Ferrero, Susana Lainho e Belmiro Cunha, redigiu uma carta aberta ao presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. Rui Moreira.

Nesta carta, os signatários alertaram para vários pontos fundamentais:

  • O palacete não estava em risco de ruína e era "perfeitamente recuperável"
  • A demolição da fachada de azulejos seria ilegal, devido à proteção conferida por lei desde 2017
  • A destruição do portão histórico constituiria "um atentado ao Património"
  • O projeto contradizia as boas práticas internacionais relativas a construções em logradouros de antigas quintas

A Proposta Alternativa

Um aspeto interessante da mobilização cidadã foi que os defensores do património não se limitaram a opor-se à demolição, mas propuseram também uma solução alternativa. Segundo a sua proposta, seria possível conciliar os interesses de desenvolvimento com a preservação patrimonial:

"Em relação à construção nova que, imaginamos, será o argumento apresentado para a 'boa rentabilidade' do projeto, a mesma poderá ser concretizada no logradouro do edifício em apreço, desde que obedecendo à percentagem de superfície permeável imposta pelo Plano Diretor Municipal para o lote em questão."

Esta abordagem demonstra uma visão equilibrada, que reconhece tanto a necessidade de desenvolvimento urbano como a importância da preservação histórica.

A Resposta Oficial e o Estado Atual

Quando contactada pela agência Lusa, a Câmara Municipal do Porto confirmou ter recebido um pedido de informação prévia (PIP) sobre o imóvel, mas informou que o mesmo "ainda não foi analisado" à data da notícia (27 de junho de 2019).

Paulo Ferrero, um dos signatários da carta, explicou à Lusa que o objetivo da iniciativa era "salvaguardar o imóvel antes que seja tarde demais" e que a autarquia aprovasse o projeto de demolição.

Por Que Preservar o Palacete de Requesende?

A questão da preservação do Palacete da Travessa de Requesende vai muito além da proteção de um edifício isolado. Trata-se de preservar um elemento fundamental para a identidade cultural e histórica da cidade do Porto.

Valor Histórico e Cultural

O palacete representa:

  • Um exemplo raro da arquitetura residencial do início do século XX
  • Um testemunho do desenvolvimento urbano da zona da Prelada
  • Um elo de ligação com o passado aristocrático da cidade
  • Um exemplo do requinte artístico e construtivo da época

Potencial para Reutilização Adaptativa

Como muitos edifícios históricos em todo o mundo, o Palacete de Requesende possui excelente potencial para reutilização adaptativa, permitindo:

  • Conversão para novos usos compatíveis com as necessidades contemporâneas
  • Manutenção dos elementos arquitetónicos de valor
  • Combinação harmoniosa entre o antigo e o novo
  • Valorização da área envolvente através da preservação da sua história

O Contexto Mais Amplo da Preservação no Porto

A situação do Palacete de Requesende não é um caso isolado. Nas últimas décadas, o Porto tem enfrentado um dilema comum a muitas cidades históricas: como equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação do património.

A Transformação Urbana do Porto

A cidade tem passado por profundas transformações, impulsionadas por:

  • Crescimento do turismo
  • Pressão imobiliária
  • Necessidade de modernização das infraestruturas
  • Adaptação a novos usos e necessidades

Neste contexto, edificações históricas como o Palacete de Requesende frequentemente encontram-se sob ameaça, vistas por alguns como obstáculos ao desenvolvimento, em vez de recursos valiosos a preservar.

O Movimento de Defesa do Património

Em resposta a estas pressões, tem-se verificado um crescente movimento de defesa do património no Porto. Cidadãos, associações e especialistas têm unido esforços para:

  • Alertar para a importância da preservação
  • Propor alternativas viáveis que conciliem desenvolvimento e preservação
  • Mobilizar a opinião pública em torno destas questões
  • Pressionar as autoridades para uma maior proteção do património arquitetónico

Conclusão: O Futuro do Palacete de Requesende

O Palacete de Requesende e a Travessa de Requesende representam uma parte insubstituível do património histórico do Porto. A sua preservação não é apenas uma questão estética ou arquitetónica, mas também de respeito pela memória e identidade da cidade.

A mobilização popular em defesa deste edifício demonstra uma crescente consciência sobre a importância do património. Com alternativas viáveis para a recuperação e reutilização do espaço, há esperança de que a Câmara Municipal do Porto tome uma decisão que beneficie tanto o desenvolvimento urbano como a preservação da história da cidade.

O Palacete de Requesende, com a sua fachada de azulejos protegida por lei e o seu magnífico portão histórico, merece continuar a contar a história da Prelada e do Porto para as gerações futuras. Num momento em que o desenvolvimento urbano acelera, preservar estes tesouros arquitetónicos torna-se não apenas desejável, mas essencial para manter a alma e o carácter único da Invicta.

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